Sempre me fascinou a ideia que uma parte tão significativa de uma liga que movimenta bilhões de dólares seja decidida por um sorteio de bolinhas de ping-pong, numa espécie de bingo feito a portas fechadas numa sala com 14 funcionários de alto escalão das franquias, e mais uma meia dúzia de auditores. Dessa vez quem gritou “BINGO” foi Daniel Starkman, vice-presidente de pessoal do Atlanta Hawks, que tinha apenas 3% das combinações possíveis para vencer a loteria.

Quem assistia ao evento televisivo se surpreendeu já no momento em que Mark Tatum revelou que Atlanta Hawks e Houston Rockets (este com uma pick originalmente do Brooklyn Nets) tinham “subido” para o top 4. Maior ainda foi a surpresa ao ver que o Hawks teria a primeira escolha do Draft pela primeira vez na sua história. Ninguém, no entanto, parecia mais surpreso que Landry Fields, General Manager da franquia da Georgia há apenas 2 anos, mas que já se via numa espécie de encruzilhada em relação às duras decisões que lhe aguardavam na vindoura offseason. O time vinha de mais mais um ano de expectativas frustradas, mesmo com um elenco caro e sem controle das próprias escolhas nos próximos 3 drafts (escolhas de 2025 e 27 e um direito a swap em 2026 trocados por Dejounte Murray).

A pick 1 no draft de 2024, entretanto, trouxe uma possibilidade de saída dessa situação por dois caminhos, que serão explorados nesse texto. O primeiro, que provavelmente passou pela cabeça dos torcedores da franquia imediatamente, é de trocar a pick 1 por algum jogador veterano que imediatamente reforçaria o presente elenco para brigar por posições mais altas já na próxima temporada. Ao mesmo tempo, o caminho oposto também parece viável, e não há melhor maneira de se começar uma “reconstrução”, do que já com uma primeira escolha do draft, tal qual fez o New Orleans Pelicans, ao trocar Anthony Davis após garantir a escolha que se tornaria Zion Williamson. É bom que se diga, essa “reconstrução”, não precisaria ser um desmanche total, pois a equipe já possui peças centrais de um futuro novo modelo de time jovens o suficiente em seu elenco. É possível usar a escolha para adicionar um talento de longo prazo, ao mesmo tempo em que se remodela um elenco que parece pedir por mudanças? Bom, me permiti calçar os sapatos de Landry Fields por algumas horas numa humilde tentativa de explorar as possibilidades.

A situação salarial do elenco

Na NBA, qualquer análise a respeito de construção do elenco tem que partir da observação da situação de contratos e teto salarial da equipe no longo prazo. Como dito, o Atlanta Hawks já possui um elenco caro, com salários altos de Trae Young, Dejounte Murray, Clinton Capela, De’Andre Hunter, Bogdan Bogdanovic e Onyeka Okongwu (todos garantidos para a próxima temporada) somando em torno de $144 milhões, o que por si só já coloca a equipe acima do teto salarial, projetado para $141 mi.

Soma-se a isso ainda os baixos salários de promessas em seus contratos de calouro, como Jalen Johnson, Kobe Bufkin e A.J. Griffin, que totalizam $12.5 mi, e o salário da vindoura pick 1 ($12.6 mi), totalizando 169 milhões de dólares. 

Ao se incluir nessa conta também os salários mínimos que se fariam necessários para completar o elenco, a folha salarial do Hawks ficaria em torno da Luxury Tax, projetada (mas ainda não definida) para $172 mi na próxima temporada.

Além disso, a franquia ainda tem uma decisão a tomar a respeito do Free Agent restrito Saddiq Bey. Se optar por renovar o contrato com o mesmo, seja por uma negociação direta ou igualando uma outra oferta que chegue para o mesmo no mercado, o time se aproximaria perigosamente da 2a apron (estimada em pouco menos de $ 190 milhões), que é uma linha que determina restrições severas à operação das franquias que a ultrapassam.

Ao projetar o futuro próximo, a situação não parece melhorar. Todos os contratos mais altos se estendem pelo menos até 2026, com a exceção de Clint Capela, cujo vínculo se encerra em 2025. Entretanto, a temporada 24-25 também é a última no contrato de calouro de Jalen Johnson, que se mostrou merecedor de um salário consideravelmente acima do pivô suiço, de forma que a folha ficará ainda mais cara na próxima temporada.

A situação salarial do Atlanta Hawks é, portanto, bastante delicada. Raros são os donos de franquias que não se importam de pagar as taxas extras por manter sua equipe acima da luxury tax quando o mesmo não é um claro favorito ao título. Portanto, qualquer caminho que o Hawks decida seguir, a projeção de um alívio, mesmo que pequeno, na folha salarial no longo prazo deverá ser levada em conta. 

Hawks como comprador – Usando a escolha para reforçar o elenco atual

Após uma temporada de imenso sucesso em 2020/21, ano em que o Atlanta Hawks chegou à final da conferência leste e perdeu para o futuro campeão Milwaukee Bucks por 4×2 com jogos duros, a franquia da Geórgia se colocou na posição de compradora no mercado. O time tinha ido muito mais longe do que se esperava, derrotando gigantes como Knicks e Sixers, ambos sem mando de quadra, e o futuro parecia incrivelmente promissor.

Nas três temporadas seguintes, entretanto, o mesmo sucesso não veio. Foram 3 anos de play-in, com campanhas medianas ou piores, numa tendência de queda desde então (foram 43 vitórias em 21/22, 41 em 22/23 e 36 em 23/24). Nem a adição do all star Dejounte Murray na offseason de 22, a mudança de técnico, ou a grata surpresa da explosão de Jalen Johnson alterou o panorama, de forma que a manutenção do elenco atual pareça contra intuitiva.

Já adianto que na humilde opinião deste que vos escreve, o caminho aqui descrito não parece a melhor escolha. Por mais que uma troca eventual da escolha 1 traga um nome relevante para se unir a um bom grupo, me parece pouco provável que a franquia atraia um jogador que realmente a faça subir os degraus necessários para se colocar em condição de disputar de igual para igual com o Boston Celtics, por exemplo.

No entanto, no jogo da NBA nem sempre o objetivo final é a construção de uma equipe campeã. Para os donos do Atlanta Hawks, talvez o objetivo seja novamente se colocar em condição de vencer séries de playoffs, e para isso a adição de um veterano através da troca da primeira escolha do draft possa ser mais atraente.

Ao se colocar como “comprador” no mercado, entretanto, a equipe fica em alguma medida à mercê de quem os outros times disponibilizarão no mercado. Não é realista imaginar que Jayson Tatum, Giannis Antetokounmpo ou Luka Doncic estejam disponíveis, independente do pacote de ativos a ser ofertado. Não bastasse isso, trata-se também de uma classe de draft cheia de interrogações (ainda mais que o normal), e o valor percebido da primeira escolha certamente não se equipara ao de anos anteriores.

Me baseei, portanto, em jogadores cuja situação é vista pela mídia americana como questionável a respeito de sua manutenção das atuais equipes para formar esses cenários hipotéticos de trocas.

Cenário 1:
Atlanta Hawks envia: De’Andre Hunter, Pick #1 de 2024
Brooklyn Nets envia: Mikal Bridges

O nome de Mikal Bridges sempre é mencionado no mercado de trocas, dada a situação tenebrosa em que se encontra o Brooklyn Nets, e o quão valioso é um jogador com sua qualidade e características para qualquer time que queira disputar o título. Bridges não é uma estrela, e provavelmente nunca será, mas é certamente capaz de contribuir profundamente para vitórias, sendo um dos melhores defensores de perímetro da liga, além de ser um bom arremessador de 3 capaz de pontuar também de outras formas. Também é importante dizer que o ala NUNCA perdeu sequer uma partida por lesão em toda a sua carreira, que já é de 5 temporadas. Aos 27 anos, o jogador está no seu auge, e na mesma linha do tempo das duas estrelas do atual elenco do Hawks.

Em termos contratuais a situação do Hawks praticamente não se altera com essa troca, visto que Bridges e Hunter têm salários parecidos. O pequeno alívio viria pela não inclusão do salário de 12.6 milhões do jogador que viria na primeira escolha do draft, mas isso é pouco impactante na folha como um todo.

Ao meu ver, por mais que essa troca representasse sim uma melhora para a equipe, o salto não seria grande o suficiente para que a mesma se justifique. Entretanto, consigo conceber a ideia de o Front Office dos falcões vislumbrar algo a mais.

Pelo lado do Nets, a troca já é complicada porque a equipe de Brooklyn não possui as próprias escolhas nos drafts vindouros, de forma que dificilmente eles seriam convencidos a abrir mão de seu melhor jogador em troca de ativos para o futuro. Por esse motivo, o aparente “overpay” se faz necessário caso o Hawks queira tirar Bridges de Nova York.

Cenário 2:
Atlanta Hawks envia: Clint Capela, De’Andre Hunter e Pick #1 2024
New Orleans Pelicans envia: Brandon Ingram e Pick #17 2024 (via Lakers)

Vejo esse cenário como intrigante, embora não ideal. Ingram joga na mesma posição de Mikal Bridges, mas em termos de função e característica, são jogadores bastante distintos. 

Diferentemente de Mikal Bridges, Ingram é sim uma estrela.

Apesar disso, enxergo o encaixe do jogador do Pelicans no elenco atual do Hawks como pior do que seria o de Bridges. BI não é tão bom defensor quanto Bridges, e tem como seu principal defeito a baixa capacidade de impactar o ataque quando não é o foco do mesmo. 

Essa é justamente a característica pela qual o Pelicans parece estar disposto a trocá-lo. Enquanto o time de New Orleans evolui para cada vez mais jogar em função de Zion Williamson, alas como Trey Murphy e Herb Jones parecem fazer mais sentido do que Ingram.

O impacto off-ball é também a maior crítica ao desempenho abaixo do esperado da dupla Trae Youg – Dejounte Murray, e adicionar um terceiro jogador ball-dominant a esse grupo não parece a melhor opção.

Já ficou claro que eu também não sou favorável a esse movimento, mas novamente consigo enxergar Fields vendo a possibilidade de adicionar uma terceira estrela por um preço relativamente baixo, dada a situação de Ingram em New Orleans. 

Em termos salariais, Ingram tem apenas mais um ano de contrato, mas caso o Atlanta troque uma primeira escolha por ele, esperaria-se uma renovação, de forma que o impacto de médio prazo fosse próximo de neutro (dadas as saídas do salário da pick 1 e de Hunter do elenco).

Cenário 3:
Atlanta Hawks envia: Dejounte Murray e Pick #1 2024
Utah Jazz envia: Lauri Markkanen

Aqui temos o primeiro cenário que considero realmente impactante. Markkanen não só é uma estrela, mas é a definição da estrela ideal para jogar com um jogador ball dominant. Seu impacto é enorme mesmo sem ser um condutor de bola, e parece um parceiro ideal para Trae Young no ataque. O finlandês é um exímio arremessador de 3, além de utilizar seu tamanho a seu favor de diversas formas, o que o torna um complemento ideal caso o Hawks opte por seguir com Okongwu como seu pivô titular. Markkanen também é muito bom reboteiro, passador e criador secundário, e teria impacto positivo no desenvolvimento futuro de Jalen Johnson.

Não vejo ninguém nessa classe de draft capaz de chegar perto de contribuir tanto para o sucesso do elenco atual do Atlanta Hawks quanto Markkanen, que completará 27 anos em breve. O preço a pagar pelo finlandês, no entanto, seria alto. O Jazz já recusou diversas propostas pelo ala, e definitivamente não seria fácil tirá-lo de Utah. Por esse motivo, a proposta aqui descrita é tão alta.

O Utah Jazz se encontra numa situação de “meio do caminho”, e pode enxergar a forte classe de draft de 2025 como uma boa saída da mesma, e para perder jogos o suficientes para ter uma escolha alta é essencial trocar Markkanen. Entretanto, não há nenhum indício que de fato esse vai ser o caminho a ser seguido por Danny Ainge.

Na opinião do autor, novamente não é a alternativa que eu seguiria se estivesse na cadeira de Landry Fields, uma vez que não acredito que trocar a escolha 1 para reforçar o time atual seja a melhor opção para a franquia da Geórgia. Mas dentre os cenários aqui explorados, vejo a aquisição de Markkanen como a que mais traria impacto não só em termos de vitórias, mas também por mover o time na direção de uma construção de elenco mais coeso. Não solucionaria todos os problemas da equipe (a defesa, por exemplo, talvez até piorasse caso não fossem feitos outros ajustes), mas é um passo na direção certa caso a ideia seja construir o time em torno de Trae Young.

Cenário 4:
Atlanta Hawks envia: De’Andre Hunter, Clint Capela, Kobe Bufkin e Pick #1 2024
Miami Heat envia: Jimmy Butler e Pick #15 2024

Aqui temos uma ideia verdadeiramente ousada, que me parece fazer bastante sentido se a ideia do Front Office do Atlanta for mesmo utilizar a pick para maximizar as possibilidades do elenco atual. 

Butler é uma estrela mais que provada nos maiores palcos, com incontáveis atuações memoráveis em playoffs não apenas ao longo de sua carreira, mas também recentemente (há 1 ano ele carregou o Miami Heat nas costas para nada menos que a final da NBA!!!). Além disso, Jimmy traz consigo um ar de profissionalismo e competitividade que contagia (nem sempre positivamente, vide sua passagem pelo Timberwolves) os seus companheiros.

Em quadra, o ganho defensivo seria claro e impactante. Ofensivamente, me preocupa a falta de espaçamento em uma linha com Young, Murray, Butler, Johnson e Okongwu, mas a sua adição causaria nos adversários a dificuldade de ter mais uma estrela capaz de pontuar sozinha a qualquer momento nessa lineup. Certamente outros arremessadores do elenco teriam também papéis primordiais, como Bogdanovic e AJ Griffin (em quem eu ainda acredito).

O lado negativo dessa ideia se resume à idade e à situação contratual do astro do Miami Heat, ao mesmo tempo que estes são também justamente os motivos pelos quais ele pode estar disponível. Butler terá 35 anos no início da temporada 24-25, e entra no último ano garantido de seu contrato (que beira os $50 milhões), tendo uma Player Option para a temporada seguinte. Qualquer troca pelo jogador deve incluir pelo menos um pré-acordo para uma renovação do vínculo, mas ele não parece disposto a aceitar menos que um contrato máximo nessa extensão.

O dilema que se apresenta é entre confiar ou não na saúde de um atleta com essa idade e histórico de lesões, mas que há um ano era o melhor jogador de um finalista da NBA. O preço proposto me parece adequado. Ao mesmo tempo em que é barato dado o talento de Butler, também é caro ao se considerar sua idade e situação contratual.

Eu veria a troca com melhores olhos para o Hawks caso ela envolvesse também a pick do Miami Heat desse draft, que será a de número 15. Digo isso porque o time estaria se engessando em um elenco extremamente caro, e sem muita possibilidade para a adição de novas peças. Uma pick mediana nesse draft poderia trazer ainda um outro nome (de preferência um arremessador) para a rotação em um preço controlado por um período mais longo.

Pelo lado do Heat, apesar de me parecer atraente a ideia de ter a primeira escolha do draft como uma peça inicial para um novo modelo de time, tal troca seria apenas o primeiro de alguns movimentos que deveriam se seguir. Não faria sentido para a franquia da Flórida parar por aí, e ao mesmo tempo, isso não se parece em nada com o modus operandi de Pat Riley.

O caminho do “Rebuild mas nem tanto”

A palavra “Reconstrução” é temida pelos torcedores, que não querem ver seus times passarem por longos anos sem qualquer esperança de conquistas. No entanto, é um processo quase inevitável de tempos em tempos pela forma em que a NBA é construída.

O Atlanta Hawks não é diferente, mas o que provavelmente frustraria profundamente os torcedores da franquia é o fato de que esse seria o segundo processo de rebuild em não muito tempo. 

Em 2021 a equipe estava na final da conferência leste, comandada por Trae Young com 22 anos e um elenco cheio de peças promissoras ao seu redor, como John Collins, De’Andre Hunter e Cam Reddish. O futuro parecia brilhante! De repente, apenas três temporadas depois, não é difícil encontrar opiniões de diversos especialistas novamente citando a “palavra com R” como melhor plano de ação.

Do meu ponto de vista, não é necessário um movimento tão drástico quanto essa palavra costuma indicar, embora eu conceda que talvez fosse uma boa ideia dar um “passo pra trás” nesse momento, visando a construção de um elenco mais competitivo em breve.

O cerne da questão parece ser a dupla de armadores. Estatisticamente não há evidência que a adição de Dejounte Murray melhorou os resultados da equipe, ou tampouco piorou. O problema é que foi gasto muito capital de draft para sua contratação.

Aparentemente o próprio Atlanta Hawks já admitiu o erro, visto que foi amplamente noticiado que a franquia tentou trocar o armador na última Trade Deadline, o que é o primeiro passo para a recuperação. É ilusório acreditar que uma eventual troca de Dejounte traria retorno próximo do que foi pago por ele em 2022, mas nada adianta se lamentar por isso. O retorno por Trae Young, por outro lado, certamente seria maior, caso a franquia opte por esse caminho também muito especulado pela mídia (embora sem nenhuma razão concreta para que se acredite nisso). 

Uma troca de um dos dois dificilmente traria para Atlanta um jogador de qualidade equivalente, mas com as características ideais. É muito difícil imaginar uma troca “lateral” que torne a equipe competitiva imediatamente. Todavia, ao serem agraciados com a primeira escolha do draft, o caminho de trocar uma das estrelas por ativos futuros se torna mais atraente.

Alex Sarr, provável escolha 1 do draft.

O Hawks não se tornará competitivo na próxima temporada pela adição de Alex Sarr (provável escolha 1). Não me parece, portanto, uma má ideia trocar Young ou Murray, mesmo que isso represente uma piora na equipe imediatamente, por ativos futuros (picks ou jovens jogadores) que aí sim podem ser utilizados na busca por uma nova peça que faça sentido ao lado de um grupo com Trae ou Dejounte, Jalen Johnson e Alex Sarr. Seria uma nova forma de definir um núcleo para um time ainda jovem, mas que já pode ter em seu elenco as peças centrais para um futuro brilhante.

Ao seguir esse caminho, o time pode (e deve) também reconsiderar a condição de algumas peças mais veteranas e com contratos caros, visto que elas também podem render ativos para futuras trocas. Certamente há um bom mercado para Bogdan Bogdanovic; Clint Capela pode ter lugar em alguma equipe, mesmo que o retorno por ele nesse momento acabe sendo apenas o alívio salarial (tal qual John Collins na última offseason).

A situação da equipe só não é mais propícia para um movimento nesse sentido porque a franquia não tem acesso às suas próprias escolhas nos próximos 3 drafts. Isso é um empecilho que pode ser resolvido caso Fields e Brian Wright (General Manager do Spurs) cheguem a um acordo numa eventual troca por um dos armadores do time vermelho e branco. Entretanto, a busca de Fields não deve se limitar a isso, uma vez que o mercado deverá oferecer bons ativos por qualquer um dos dois, mesmo que não seja com escolhas do próprio Hawks. 

Apresento então alguns cenários de trocas que acho factíveis por Dejounte Murray e Trae Young, focando em um retorno com ativos futuros.

Cenário 1: Troca com San Antonio Spurs

O Spurs é uma das equipes que enxergo como um possível mercado por qualquer um dos armadores dos Falcões. É fácil entender por que Trae Young parece um grande atrativo para a equipe, dadas as inúmeras possibilidades de jogo ofensivo do mesmo com Victor Wembanyama. Ao mesmo tempo, um retorno de Dejounte Murray parece ser bem visto pela franquia do sul do Texas, uma vez que ele ainda mantém um forte vínculo com Gregg Popovich e teve por lá sua melhor temporada em termos estatísticos, que lhe rendeu até uma convocação para o All Star Game. O preço que Brian Wright estaria disposto a pagar por um ou outro, entretanto, certamente seria diferente. 

Atlanta Hawks envia: Dejounte Muray
San Antonio Spurs envia: Pick #8 2024, Pick 1st round ATL 2025, Devonte Graham, Malaki Braham.

Recuperar a escolha de 2025 é um bom atrativo para uma eventual reformulação nesse elenco, dado que essa classe de draft é vista pelos especialistas como superior à atual. Nessa proposta, Atlanta também traria outro calouro promissor ao seu elenco já em 2024, o que pode ser uma boa ideia se o time adotar um modelo focado no desenvolvimento de jovens. Há também uma expressiva redução na folha salarial, dado que o salário de Devonte Graham possui apenas $2.8 milhões garantidos para a próxima temporada, e o Spurs tem espaço salarial para absorver o contrato de Murray e aliviar as contas do Hawks.

Atlanta Hawks envia: Trae Young
San Antonio Spurs envia: Keldon Johnson, Devonte Graham, Malaki Braham, Pick #4 2024, Pick 1st round ATL 2025, Pick Swap 2026 (Spurs deixa de ter o direito de trocar de escolha com Hawks em 2026). Pick ATL 2027.

Não é fácil trocar seu Franchise Player. Principalmente quando ele tem apenas 25 anos e já se mostrou capaz de atuar em grandes palcos, com algumas poucas mas impactantes atuações em playoffs. O retorno teria que ser substantivo, e nessa proposta o é. Mais uma escolha no top 4 daria à franquia da Georgia não um, mas dois calouros de alto potencial para apostar num ano focado em desenvolvimento. Além de Sarr, a franquia poderia trazer algum nome entre Nikola Topic, Zacharie Risacher, Rob Dillingham ou Reed Sheppard, todos muito atraentes para um projeto de time ao lado de Sarr, Murray e Jalen Johnson.

Além disso, Atlanta levaria Keldon Johnson, mas o principal da troca é o controle da franquia da Geórgia sobre suas próprias escolhas nos drafts futuros, além de ter também um alívio salarial caso Graham seja dispensado.

Cenário 2: Troca com Orlando Magic

Assim como o Spurs, é possível imaginar a franquia de Orlando interessada por qualquer um dos armadores de Atlanta. O Magic já foi longe esse ano, e tem na armação e na falta de arremessadores confiáveis de 3 suas principais deficiências para dar o próximo salto. Ainda se trata de uma franquia jovem, com seu Franchise Player indo apenas para sua terceira temporada na liga, que pode adotar uma abordagem mais paciente.Por outro lado, caso resolvam acelerar sua construção de time, qualquer um entre Young e Murray seria uma adição valiosa. Junta-se a isso o fato de o Magic possuir um enorme espaço na folha salarial (que pode chegar a $60 milhões), e portanto poder aliviar bastante as contas do Hawks. As ideias são:

Atlanta Hawks envia: Dejounte Murray
Orlando Magic envia: Anthony Black, Pick 1st Round Denver 2025 (protegida top 5), Pick 1st Round 2026 (a menos favorável entre Phoenix e Washington).

O retorno nessa proposta é bastante interessante. As duas escolhas de primeira rodada enviadas não são lá das mais promissoras, mas são ativos que podem ser incluídos em trocas futuras. Anthony Black, no entanto, é um jogador que demonstrou bons flashes ao longo de sua primeira temporada, e preencheria imediatamente a vaga deixada por Murray no elenco.

Atlanta Hawks envia: Trae Young
Orlando Magic envia: Anthony Black, Jett Howard, Pick #18 2024, Pick 1st Round Denver 2025 (protegida top 5), Pick 1st Round 2026 (a menos favorável entre Phoenix e Washington), Pick 1st Round 2027 ORL desprotegida.

O retorno aqui é maior em termos de quantidade de ativos. São 4 escolhas de draft de primeira rodada. Embora três delas provavelmente não estarão na loteria, há também uma escolha desprotegida em 2027, que é bastante valiosa. Além disso, Orlando enviaria dois jogadores escolhidos na loteria do draft há um ano.

Cenário 3: Troca com Brooklyn Nets

O Brooklyn Nets aparece novamente! Dessa vez, como comprador. A franquia de Nova York não controla as próprias escolhas de draft no futuro próximo. Portanto esse movimento indicaria o plano de se tornar o mais competitiva possível, e por isso Trae me parece fazer mais sentido como alvo do que Dejounte. Brooklyn não tem um franchise player. Por melhor que seja Mikal Bridges, esse não é idealmente seu papel. Por isso, vislumbro mais a possibilidade de eles abrirem seu baú de picks pelo camisa 11 que pelo camisa 5.

Atlanta Hawks envia: Trae Young
Brooklyn Nets envia:  Dorian Finney-Smith, Dennis Schroder (o retorno!), Cam Thomas, Noah Clowney e as Picks: 1st round PHO 2027, 1st round PHI 2027
(protegida top 6), 1st round PHO 2029.

Em comparação com as outras propostas, talvez essa não pareça tão atrativa à primeira vista, pois inclui “apenas” 3 escolhas de draft, enquanto a de Orlando incluia 4 escolhas + Anthony Black e a do Spurs incluia 3 + 1 swap, sendo uma delas a escolha 4 de 2024.

No entanto, as escolhas desprotegidas de Phoenix em 27 e 29 são vistas como extremamente valiosas ao redor da NBA, dada a idade de Kevin Durant e a pouca flexibilidade da franquia do Arizona, que dificulta que sua janela de competitividade se mantenha aberta por muito mais tempo. Além disso, o ala Dorian Finney-Smith seria uma boa adição ao elenco atual do Hawks, ao mesmo tempo que também possui bom valor caso Atlanta opte por trocá-lo. Cam Thomas e Noah Clowney também são projetos interessantes. O primeiro já se mostrou um exímio pontuador, e o segundo foi um dos jogadores mais jovens draftados em 2023, e é ainda mais jovem que a maioria dos que entrarão na NBA esse ano.

Cenário 4: Troca com Los Angeles Lakers

É quase impossível falar em possibilidades de trocas de estrelas sem imediatamente ouvir alguém dizer “VAI PRO LAKERS!”. Ambos Trae e Dejounte já tiveram seus nomes ligados à franquia de LA na trade deadline, mas agora finalmente a ideia parece mais realista. Novamente, por se tratar da franquia comandada por Lebron James (em muitas instâncias), acredito que qualquer movimento para adicionar talento seja um novo all-in. Lebron tem ainda mais influência nas decisões da franquia nesse momento, pois tem a possibilidade de sair como free agent imediatamente. Não é difícil imaginar que ele diga algo como “tragam Trae Young ou eu saio”, e isso seria uma ameaça crível.

Lakers tem acesso, nesse momento, a 3 escolhas de draft de primeira rodada para enviar em trocas, sendo elas a de 2024 ou 2025 (Pelicans tem o até primeiro de junho para escolher se ficam com a escolha desse ano ou a do ano seguinte), mais as escolhas de 2029 e 2031. Caso o time de New Orleans opte por ficar com a escolha do Lakers de 2025 (o que eu vejo como mais provável), a escolha disponível para troca deste ano é a de número 17.

Atlanta Hawks envia: Trae Young
Los Angeles Lakers envia:  Austin Reaves, 3 escolhas de primeira rodada (#17 de 2024, e escolhas desprotegidas de 2029 e 2031), dois jogadores entre Gabe Vincent, Rui Hachimura e Jared Vanderbilt (por questão de salário)

Essa proposta não é melhor que as outras até aqui apresentadas. Para que o Atlanta aceitasse essa pedida, tendo as outras que mencionei na mesa, Fields teria que acreditar bastante em Austin Reaves, o que não é inimaginável. 

Conclusão

O Atlanta Hawks está em um momento sensível, em que grandes decisões devem ser tomadas. Esse já era o caso mesmo antes de serem agraciados na loteria do draft, uma vez que o modelo até então estabelecido já parecia esgotado.A primeira escolha, entretanto, apresentou novas possibilidades de caminhos a se seguir, alguns dos quais tentei apresentar nesse texto.

Em minha humilde opinião, o “passo pra trás” é o melhor caminho a se tomar para que se chegue ao objetivo final de construir um elenco forte e coeso, com capacidade de competir contra as melhores equipes da liga.

E vocês? O que acham? Qual caminho o Atlanta Hawks deveria seguir? Tem mais ideias de trocas? Fale com a gente nos comentários abaixo!

4 respostas

  1. Realidade complexa essa dos Hawks... muitas nuances e camadas. Pagaram um preço alto no Murray que não mostrou o que se esperava dele. Vão ter que ter bastante inteligência e visão caso queiram voltar pras cabeças do leste.

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